segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Foi

Mais do que palavras

Mais

Mais do que a mim mesmo

Meu

Todo esse seja

Se já foi 

Foi

Cê já foi,

Não?

Seja forte

Perdão

Para abrir portais

Sentidos pra onde for voar







terça-feira, 10 de novembro de 2020

Décadence avec élégance

Sôfrega

A ansiedade toma

Tem instância

Tem profundo

Estranha 

Ela não muda,

Arranha

Não

Parece que ficou pra trás

Uma vida, um brilho, um quero mais

Parece que ruiu

De dentro pra fora

Aos poucos

Aquele fracasso anunciado se deu

Os batimentos estão sós

Os tendões repuxam lentos

É o peso largado que faz ralentar o movimento

Meu dono, meu deus

Um autor que ainda vive

Mas que já não conta

Com a vida do seu títere

Eu-títere

Produzindo ostracismos

Decadence

Avec

Decadence

Sans

Élégance


domingo, 25 de outubro de 2020

Feline

Te vi manse se esgueirar sob o carro

Flagrei-te intruse em teu passeio enluarado

Rasguei com a boca um som pra te atentar

Parou imóvel me olhando sem cessão

Não mexe rabo nem nada, não pisca

Fixo ou fixa

Vai dar teu passeio, feline

Chamei tua atenção só pra te atentar

Move uma orelha

Mexe cabeça

Outra coisa está mais a te chamar

Retorna pra mim

E ao meu menor desfoque

Vai pra onde já queria ir

Sou eu

Como sempre

Atraindo gatos

Pra baixo de carro


quinta-feira, 1 de outubro de 2020

postagem

pega desprevinido

um soquinho no fundo

uma fisgadinha na mente

pega de jeito

pega um bocado

vem do nada

um respiro estranho

um soprinho maldoso

um ventinho malvado

porque machuca

bate frio nesse calor desértico

molha meu corpo inteiro

nesse seco tempo que faz aqui

mas molha quente

molha chá

molha incômodo

por ainda incomodar

um respiro errado

um passeio pela imagem

que não pôde ser

e da que é

mas que eu não sei

"tentar evitar postagem"

escrevo pra mim mesmo

porém, paciência

farei enquanto preciso for

sábado, 5 de setembro de 2020

selvagem

colando
de um lado pro outro
de um verso pro outro
uma letra na outra

e se fosse apenas isso que eu tivesse pra dizer?

justo
reto
certeiro
feito
a
intenção
de
um
animal
uma
patada
uma
mordida
seguido
de
um grito
um rugido
e fim

simples intenções
primitivas intenções

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

memória_

interessante como agosto passou
esse não_mês
reclamado
inaugural

marcar presença
marcar ausência
é marcar

dizem que a pele é o maior órgão do corpo
humano

eu já acho que é a memória uma coisa que espalha mais que pele

tá por dentro
tá por fora
tá nas coisas
e na metafísica das coisas

memória dói.
participa.
alegra.
move.

eu tenho sede de me prender pelo impulso elétrico de cada sinapse
viajar na temporalidade
e beijar,
de uma só vez,
camada sobre camada,
memória sobre memória,
todos aqueles beijos.

 memória não apaga. memória_pele. memória_palavr_. me_ór_a.

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Aborto

Se concebido
Tivesse sido
Faria 9 hoje
Nosso filho
Filha
Pet
Ou algo assim
Teria idade
Consciência
Vida
Teria alguém
Se concebido
Fosse
Faria festa
Brindaria
Celebraria
Trocaria presentes
Um filho
Ou filha
Grandes
Bolo
Memória
Respeito
Não faz agora
Não existe
Só uma bebidinha
Amarga
Ah, e solidão
Pra variar

quarta-feira, 22 de julho de 2020

queria ressignificar, mas acho que é niilismo, é banal

quando não for pra soltar
dizer sem pensar
deixar sair
melhor não
deixar, dizer, soltar

não sei se venho pra expurgar
ou se vir é o que me mantém

hoje um marimbondo me enfrentou

"galos de briga"

me enfrentou porque dei carinho pra planta
ele estava na planta
a planta na cozinha

veio pra cima de mim
eu vestido de roupa florida

parou

marimbondo quer me ferrar
ou pousar na flor de roupa?

sumiço

nunca mais te vi
ouvi ou quis saber
embora quisesse te ter aqui

"na minha bolsinha"

bicho bravo, atrevido
acuado ataca, abre ferida

podendo te dar o corpo
e você na flor de roupa

meu medo é que o ter medo me corrompa ainda mais

domingo, 5 de julho de 2020

DARK < 3

um quebra-cabeça
de mil peças
espalhadas sobre a mesa
baralho embaralhado
cabelo embaraçado
nó pequeno e apertado
visão turva
o xadrez pro leigo
o problema matemático
a trama do crochê
sou eu, estanque
eu-deriva\
eu-demônios|
eu-não sei.
sou eu, ninguém
a perda do sentido
a falta de coragem
a vontade que não vem

por que você corre tanto?
pra tentar te alcançar

ainda aqui
um eu-diálogo/
com o que já não existe mais

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Drama de martírio

Eu me abro
O que importa?
Eu me abro
Por que não?
Quando você prova
O lugar vazio
Você faz qualquer coisa
Aceita humilhação
Passa em cima de si
Se arrasta
Implora
Se curva
Vai ao chão
O tempo passa
E você não 
Se reconhece mais
O tempo se afasta
E já tanto faz
São dramas de martírio
Meus atos
Enlouquecidos pra ser
São séculos
A aparência
São ecos
Que não parecem querer
Deixar de durar
Reverbs precisos
Espraiando o que é
Apenas é
A inglória diária
Não existe mais
O eu que um dia conheci

sábado, 6 de junho de 2020

se tiver

Conta os passos
De degrau em degrau
Sobe um, desce um
Sente

é um nózinho laçado
um pontinho por dentro
de tão pitico
chega ser levado com vento

tão imensa beleza
toda capacidade de cor

nunca vi mais bonito
nunca existi pra ver

o dia em que eu vi o cristo
foi de um Rio revelador
brilhava os meus olhos dormidos
a luz divina, o redentor

o dia que toquei no cristo
um choque a alma me tomou
pedi como se pede a vida
a vida fez que tudo andou

se eu rezar
terei levado a cabo
uma total contradição?

como permanecer fim
nesse meio tempo?

como permanecer meio
nesse fim de mundo?

como ler o meu tempo?
como não roubar frase?
como dividir você com a morte?




quinta-feira, 7 de maio de 2020

acrimônia

são fluxos
coisas de entrar
de sair

olhou uma semente
sua chance de ver
preferiu engolir
nascer dentro
semear interno
de dentro
pra fora


esse interior
esse mau humor
periódico
disparador

conter esforços
cortar por dentro
e por que escreve?
por que não para?

brotações escuras
ramagens arteriais
atravessam a dor
a derme
truncam o que for

força estranhamente
as sensações de limite
os avisos de cuidado
as memórias corporais

quanto infantil
quanto novo
morrendo de velho naquela mesma sensação
são paradas-martelos
respiros espirituais
turva vista
sino sinistro
óbvio óbito
e desvio

sonetos pro outro
vacâncias compulsórias
aqui
é coisa de boca
de hálito
de alma que se arranca
sugando com beijo






sexta-feira, 1 de maio de 2020

Palavra jorro

Sempre estou numa estrada escura quando escrevo um poema
Ao lado tem um matagal
Há um farol de carro que ilumina o que eu quero
Às vezes essa luz vira sol
Às vezes não
Às vezes esse sol não tá no céu
E nem no chão

Sou o leito
Os poemas, rios
Descansam em mim
Caudalosos
Até jorrarem
Meus desvarios

Irrompem em palavras

Atravessam a estrada
O escuro
O matagal

Alagam
Entrecruzam
Gravitam
Em direção ao litoral

Sobro eu, estrada, farol
Apago farol
A estrada ali
O escuro e eu
Em minha própria companhia

Até jorrar de novo







domingo, 26 de abril de 2020

Fumando escondido

Joguei fora o poema
Que trazia de novo
Problema velho, um porre
O amor morre?
A pedra rola
A água molha
O olho olha
O amor acaba?
Você, aí
E eu assim
Sem mudar nada
Tem que significar fim?
Não existe amor depois?
O outro que se instaura
A diferença que converge
O carinho que habita
Precipício?
Amor se apaga desde o início?
Não resta nada?
Memória é vício?
Penso nas formas de me convencer
Penso no desprezo que te obrigo sentir
Não minto, nunca menti
Transparente
Ao ponto de nem saber mais o que dizer
Quiçá aparecer






domingo, 19 de abril de 2020

Dor psíquica

Remexo
As dores
Não porque quero
Faço
Enquanto espero
A lufada de vida
Brisa
Entrar pela frisa
Dela
Uma única
Janela
Pela qual é recorrente
Pular ou tocar
Esse lugar que não é chão
Não é firmamento
É vento
Um oco louco
Maluco de passado
Prisão
Sofreguidão
A saída apontada por ali
Barra a passagem da agonia
E a vergonha apontada na minha testa
Não resta de uma penitência
Mas de uma inabilidade
Afinal, nem sempre se ganha
E tem sido assim
Já não posso pedir
Já não posso lutar
Já não posso rever
E de tanto não poder
É só o que minha cabeça faz
Percorre uma existência
Que já não existe
E mais
Rememora o menor dos detalhes
Me massacra à vontade
Faz isso de mim
Sofre à medida que acaba
Vai se vendo mais triste
Vai se culpando mais
Escolhe o pior que pode
Desaprende o que teve
Mesmo sem a vida ensinar
Desacredita
A ferida foi tão profunda
Que ainda estou aqui
Sangrando
Até quando?



quinta-feira, 9 de abril de 2020

Se deu, fico feliz

Apita o trem
Venho pra dizer meus parabéns

Apita pra ecoar
Venho pra demonstrar minha alegria

Esse apito, memória
Dizer algo mais

Havia uma moça com as mãos sujas de barro
Ela andava e aos poucos sua roupa rasgava
Ela falava sem conseguir falar
Ela gritava sem conseguir gritar
Mas só você ouvia
Só você via
Havia outra moça tentando acudir
Havia dois bancos pra poder sentar
Havia uma luz bem forte
Não sabia se era sol se era fogo
Havia e nada mais

Teu pé me apareceu ao fechar os olhos
Tua mão me apareceu ao abrir
Cada milímetro teu gravado, aqui
Depois eu vi você andar
Depois eu vi você pegar com a mão
Aquela mariposa na minha cabeça

Daí desapareceu a moça do barro
O grito saiu
A fala saiu
Eu vi o que eu sempre quis ver

Se deu

Fico feliz
Fico feliz
E o desencontro que essa felicidade me põe
Eu movo

E do consolo que é esse tempo pra passar
Eu morro

Te quero tão bem
E te amo tanto
Que chega ser uma covardia comigo mesmo

Mas fico feliz
Fico feliz




quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Tento

Eu e os perdões que ainda tenho que dar
Eu ainda nessa constância
Nessa obsessão
O inexplicável acontece
De te sentir vivo
De te sentir
Beijei teu lado da cama
Senti que me perdoo
Que te perdoo
Mas não governo pensamento
Ele volta
Ele vem
Ele pensa em alguém
Tatuei uma chave na mão
Pra abrir e fechar o que eu quiser
No entanto pareço prender e perder
Pareço morrer
Pareço não acontecer
Vida sem sorte
Esse talismã que você dizia que era pra mim
E era
E era
Honestidade comigo
Verdade comigo
Perdão
Dar e receber
Tento

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Rajadas 5:30

Esse enredo
Não é do meu carnaval
Pois enquanto houver o eu
Haverá você
Enquanto houver a rima
Haverá o amor
Enquanto tiver o quarto
Te espero deitar e apagar a luz
Se longe for
Interruptor
Abajur
Competir
Não é necessariamente o que devemos fazer
A doce presença
Que tem tua ausência
É a pena máxima
Pra quem já errou
Mas
Um mundo sem ais
Apenas
Mais
Um mundo sem ais
Se não te vale meu lamento
Portanto te corre daqui
Fuja tudo que puder
Tape tudo em que sentir
Só não me diga sobre o que tenho que dizer
Só não reclame de como eu entendo existir
Tô nessa cadeia da vida
Tô preso sem mais solução
Aceito essa sina
Percorro, você ainda
E eu, aceitação



quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Mal dizer

Deve te fazer mal
O jeito em que eu penso em você por todo o meu dia
A fisgada, meu voodoo imaginário, minha energia cruzada, pesada
Sou radioativo
Alcanço o impossível
Entravo
Tranco
Fecho
A cada novo lamentar
Em que eu suspiro
Pelejo
Vomito
Eu grito internamente
Pra contra tua mente atentar
Lanço bombas de raiva
Disparo contra teu peito
O teu pulmão respira
Todo o meu ar rarefeito
Sou a cicatriz infeccionada
Sou uma agulha enferrujada
Que perfura a tua pele, sou tétano
Tentando acabar com a tua humanidade
Já não tenho nenhuma
Vida humana nenhuma 
Já maldisse a casa tua
Teu país
Tua rua
E cuidei pra que os dias te fossem durar
Mas durar na dureza
Durar na certeza
Que eu saí, sem sair
Pra te atormentar.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

2020

aconteceu
o ano entrou
e a vida viu
recomeçar

dizer adeus
olhar o lá
o além
daqui
olhar

sobrevivi
vi
vivi
ouvi
cantar
te vi

to eu
tão eu
respirando
agindo
e
reagindo

houve um tempo
em que eu escrevia poemas de final feliz

lembram?
nem eu

não basta passar o tempo
mas dar tempo pra passar

feliz
20
20

de nascer

quem quiser  quem for ver vai dizer que o tempo passou voando não vai mentir vai sentir um vento na cara, natureza talvez sorrir parece que ...