terça-feira, 28 de setembro de 2010

Nove e meia

Quando for a hora, você vai chegar bonito, de cheiro agradável e vai me perguntar as horas. Eu vou me virar sem pretensão com os olhos no punho acompanhando os ponteiros, vou te dizer que são nove e meia e te olhar de relance, despertar por você, e então me lançar pelo olhar em ti. Você vai sorrir e agradecer, eu vou ser legal e te perguntar se parou de chover lá fora. Você então vai começar a dizer que ainda não, saudando a chuva que enfim caí, dando um basta no tempo seco que ataca sua renite, mas eu vou estar sem reação e nem vou ouvir tudo sobre a sua rinite, essas coisas eu saberei depois quando você me indagnar se eu não me lembro de quando me contou sobre ela. Daí então te contarei a verdade e assumirei meu encantamento, mas ainda na livraria você vai pegar um cd da Bebel Gilberto e dizer que adora o som dela. Eu não vou me conter e te dizer que eu também amo Bebel Gilberto. Você vai gostar e a gente vai entender que nos daremos bem pelos próximos cinco minutos. Você vai se afastar e eu vou perceber que você tem braços fortes, vou desejá-los e admirar seu tamanho alto, do tipo que tem tudo no lugar. Sua beleza será dominante, mas nem por isso eu vou me apaixonar, tudo se dará enquanto for descobrindo sua falta de barreiras ao estabelecer aquela amizade rápida. Voltando a mim, me trará um livro novo e me perguntará o que eu acho dele, vou dar minha opnião cabeça e você vai rir, vai ignorar meu estilo cult e me dizer que eu posso usar sinceridade, então direi que o livro é um porre e riremos juntos pela primeira vez. É aí então que nos olharemos de verdade, nos conhecendo por nossas retinas e sentiremos vontades parecidas de vermos novamente nossos sorrisos. Nesse momento faremos de tudo um pouco para que tudo seja divertido. Diremos quais são nossos cds preferidos e dividiremos headphones pra ouvir aquela canção inesquecível da Sinéad O'Connor. Vamos nos emocionar imaginando a possibilidade, daquela ser futuramente, a nossa canção, nos emocionaremos sempre com ela, pois sim, será a nossa canção. Eu vou comprar a trilha sonora de um filme qualquer e você vai mesmo levar o livro porre que vai ficar no criado mudo ao lado da nossa cama por anos até você assumir de vez que não consegue terminá-lo, mas você ainda vai chegar na hora certa e perguntar a hora certa até eu dizer que são nove e meia. Ainda não será nada concreto quando sairmos da livraria e você me perguntar se já jantei, nem quando eu disser que não e indicar o restaurante japonês, mas você vai superar minhas expectativas sendo mais decido do que eu e vai falar que está com muita fome e que o bom mesmo nessa hora é aquele fast food do M amarelo. Entre risos nós iremos verbalizar em sincronia um; Topa? Os risos vão aumentar seguidos da minha vergonha e da sua desenvoltura na conquista. Eu não vou precisar dizer que sim, porque você já vai saber o que eu quero. Nessa hora eu já terei sacado que você sabe o que eu quero e vou estar achando o máximo esse jogo de afinidades. Por todo o meu histórico de amores mal amados eu vou querer apenas investir num sexo casual bem gostoso pra não platonizar o acontecimento. Precisarei me segurar pra não começar a ver imagens do casamento já na mesa do Mc Donald e entre um Mc Chicken, a batata média e o catchup de copinho você vai me perguntar no que estou pensando. É claro que eu vou dizer que é na mostarda que eu esqueci de pegar. Eu sempre vou tentar falar coisas engraçadas, já notei ali que você tem um bom humor imenso e senso de humor também. Mas do nada você levanta, some no corredor e volta com o copinho de mostarda. Vai fazer toda a diferença essa atitude, porque verei que você é sim um cavalheiro moderno e então vou agradecer e ficaremos um pouco em silêncio. Você vai começar a me olhar sincero, enxergando além da minha boca cheia de batata frita, uma esperança de um encontro válido, forte e de intensidade frequente, sem picos, sem quedas, sem frenesi, com muito amor. Estranho você pensar tudo isso nesse momento, mas não escolhemos esses momentos, eles acontecem. Estamos quase indo embora e nenhum de nós questionou sobre estarmos sós, perdidos naquele shopping. A sutilidade desse encontro já nos aparentava ser a maior explicação. Eu começarei a enxergar seu nervosismo e vou descobrir ali mesmo algo que constatarei depois, sua insegurança disfarçada nesse seu tipo expansivo, nada extremo, mas que você deixa transparecer quando o seu olho se fixa no meu de verdade. Vou entender de cara, porque eu também sou assim, mas isso é uma certa preservação e eu acho que a gente faz isso muito bem.
No estacionamento vamos nos sentir um pouco tristes, tudo naquele momento vai parecer não estar certo, principalmente porque nossos carros estarão em lados opostos, mas nos daremos a desculpa de já termos anotado nossos celulares. Não demora muito o assunto acaba, mas em algum momento eu teria que retomar essa minha característica de quem sempre toma a atitude e vou te beijar. É o mínimo que posso fazer depois de ter me inibido pela desplatonização. Você vai me abraçar e o beijo será doce, calmo e histórico, ele vai dizer muita coisa, vai nos aproximar definitivamente. O resto das nossas vidas é que será mais bonito do que todo esse encontro de almas, o nosso pacto de companherismo será nossa maior virtude e a nossa paciência diante dos nossos próprios defeitos, também. Você vai me dizer eu te amo todos os dias que acordar do meu lado, mas quando eu não estiver em nossa cama, por aí no mundo em algum quarto de hotel mostrando a minha arte, vou receber uma mensagem no celular com o mesmo eu te amo de todos os dias. É claro que eu também vou fazer questão de te amar diariamente e lhe conceder o mérito pelo feito de ter me mostrado o que é amar de verdade. Estaremos juntos e seremos complemento, buscaremos nossos ideiais pessoais e quando isso significar afastamento, vamos nos possibilitar formas de diminuí-lo e assim será nossa vida, cheia de sentido, como agora que você está lindo, dormindo, sereno, hoje que concretizou aquele seu sonho antigo e eu o admirei muito mais, em gratidão por ter me acompanhado em tantos sonhos meus. Hoje durante o sexo apaixonado eu quis te dizer tudo isso. Me lembrei que são anos juntos e o sexo continua apaixonado, o mesmo sexo apaixonado depois do beijo no estacionamento do shopping. E veio a música da Sinéad O'Connor, veio você e suas premissas que viriam depois, vieram as minhas outras tantas premissas e me vi aqui, neste passado do que seremos agora. Ta dando pra entender? Agora aqui do seu lado te vendo dormir, resolvi escrever nossa história e me confundo tanto porque ela ainda vai acontecer. Eu não sei dizer, não sei ao certo dizer, que tempo é concreto, eu só sei que você é uma realidade e vai chegar bonito, de cheiro agradável e vai me perguntar as horas e eu vou dizer que são nove e meia e que te amo muito, quando for a hora.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Não é tristeza, é inspiração

Why does my heart feel so bad?
Why does my soul feel so bad?
These open doors

Por que meu coração se sente tão mal?
Por que minha alma se sente tão mal?
Essas portas abertas...

Moby feelings again

Acho que é hora de retomar alguma coisa

domingo, 26 de setembro de 2010

Já volto, processo de aceitação criativa

Este domingo me questiona
Me impulsiona
Ao mesmo tempo em que acalma minha rotina
Em meio a entrevistas
Debates e personagens
Alguma coisa sobra
Por dentro há que se carregar
Um signo que não seja
Assim
Normal
Isso prova que não para
A cabeça de pensar
De confabular e buscar rumos
Criando e sonhando
Amando e não amando
Apenas esperando
Um aspecto claro
Algo do qual partilho aqui
Num domingo de chuva
Não imagino este encontro dado
Doado, datado
Criar é tão embrionário
É tão empregnante
Quanto tudo que pode fixar-se e não sair
Não me apavora o aspecto quântico
Não me amedronta mais ter que esperar
Não fui feito ao contratempo
Por isso é preciso conter
E sentir
Esse tempo passar
Pensar é tão pra poucos
Converter a angústia é tão artístico
Que eu poderia findar
Dizendo que já volto

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Sobre a fita crepe que tapa a boca

Eu só preciso respirar
Porque você foi tão óbvio
Seguiu a risca
Pela minha intuição
E se agora a lágrima seca
É porque chorei demais em segredo
Eu sei que não sou o erro
Mas sei que dói demais
VER E CONSTATAR
Eu sempre soube, mas me reservei
Que vontade de falar sobre isso
Que vontade de não sentir
Minha estima ser aviltada em mesa de bar
Estou com nojo de mim
Decepcionado
Como se a culpa fosse minha
Assim vai minha cara
Dentro de um copo de cerveja
Um pouquinho de status
E uma revolta sem explicação
Não sei dizer o que é

A flor depois da primavera

Quando você estiver lendo isso
Sentirá que te confesso um segredo
Muito embora pareça
Que a nós dois nunca era cabível reservar-se
Te digo que sim
Te escondi certas coisas
Das quais nem aqui te falarei
Sobrevivo ao hoje
Na certeza de que deixo sua vida
Num rompante de lucidez
Não corriqueiro até aqui
Desculpe pela paixão
Ela é maior de idade
E faz o que quer
Hoje ao não entender
Procure apenas esquecer
Esqueça de mim
Porque você é uma flor
E eu não tenho condições de ser algo melhor que flor
Não se condene
Não se castre
Apenas diga a quem quiser saber
Que saí para comprar cigarro e nunca mais voltei
- Ele saiu pra comprar cigarro e nunca mais voltou!
Assopre a minha lembrança daí
Com um pouco de sorte
Você recupera as forças
E encontra algo ou alguém
Que lhe motive
Não sou quem você pensa que sou
Eu nunca fui em tantos anos
E essa farsa que eu sou
Você não merece conhecer
Terminando de ler
Rasgue, destrua
Não retorne à estas palavras
Não derrame essa lágrima
Que toma conta dos olhos
Nunca vi uma flor chorar
Acabe aqui
Acabe

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Provocação ativa

Ela disse vai
Da mesma forma que se diz:
Aceita sobremesa?
Não era comum ouvir assim
Não fazia sentido
Ela entrou fantasiada
De alta tecnologia
Ela não sabia mais amarrar
Seus sapatos
Amarelos
Suas tranças
E o seus belos
Maços de trigo
Não colheu aleatória
A safra feita
Do seu ócio
Não subverteu
Nem submergiu
Não se apropriou
Apenas deslizou
Seu grande peito
Provocativa
No parapeito
Provocativa
E de provocação à provocação
Assim
Provocação ativa
Provocativa
Ela venceu
Ela deu certo
Foi possível
Sem mais nem menos
E sem poesia

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Estupefatonices

Estou sem um dente
Meu dentista me disse enfático
Você perdeu o canino
Mas, sou um gato doutor!
(Doutor assusta-se com a reação)
Respondi estupefato,
De fato.

Por que meu dente tem que ser...
Canino!?

Eu e minhas coisas de gato.

gatogatoresponde@gmail.com

Abri esta conta de e-mail, porque o Homero me orientou no sentido de que gato blogueiro precisa ter um contato para responder aos seus leitores. Voilà! Me perguntem coisas inteligentes. Estou muito velho para tonteirinhas.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Sim, sou um gato!

Só os gatos rompem meu silêncio noturno
Pulam meu telhado de zinco
Miram minha janela indiscretos
Só os gatos miam loucos feito a fome
Caçam liberdade as mantendo entredentes
Rugem audazes, altivos, felinos
Escalam meu quarto
Ronronam intermitentes


(Gato Gato)


Gato Gato é formado em filosofia, pela C.A.T. University, gosta de leite desnatado e não abre mão da sua wyskas de vegetais. Às vezes se sente sozinho, mas dribla a solidão escrevendo e relendo livros de Sidney Sheldon. Escreve pra uma revista especializada em animais e promete vir sempre a este blog compartilhar suas experiências de vida.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Orégano em Rio Preto







Pra quem não conseguiu assistir no FIT, estamos de volta!
Dia 18 de Setembro - Sábado - às 20h30
No Teatro Municipal Nelson Castro
Av Feliciano Salles Cunha, 1020 (atrás do cemitério S. João Batista)
Ingressos R$ 10,00 inteira e R$ 5,00 meia

Espero vocês!


domingo, 5 de setembro de 2010

Você, por aqui?

Aos poucos passa
É só gritar
Aos poucos para
É só querer
Se eu não te disse
Que eu sofro
Foi pra não
Me envergonhar
Da tua presença
Imprevisível
Da tua face mutante
Que inda me faz titubear
Nestes momentos que não se pode evitar
O melhor é levar o tempo nas costas
Soltar o freio da insegurança
E pedir que amanhã eu não desgele
O melhor que se tem a fazer
É extrair o limo da paredinha da cara
Umedecer os lábios com maçã ou pera
E esperar, porque
Aos poucos passa
É só gritar
Aos poucos para
É só querer
Se eu não te disse
Que eu sofro
Foi pra não
Me envergonhar
Da tua presença
Imprevisível

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O bom dia de Mirna Moulin

Eu acho mesmo que essa vontade de não dar bom dia passa despercebida quando encaro que o dia não está realmente bom, então quando eu ainda não sei, me pergunto: Por que eu só consigo dar Bom Dia depois de meia hora que acordo? Parece que eu me certifico antes se o dia está bom mesmo. O fato é que pra fazer sentido o dia precisa fazer sentido, não pode ser como hoje, por exemplo, que ainda não tá fazendo muito sentido.

Poderíamos falar um pouco sobre a rotina de Mirna Moulin, um travesti robusto que morava na rua de pedra do centro da cidade. Talvez não fosse apropriado, você pode pensar, mas está aí alguém que dá bom dia a cavalo, literalmente.

Depois de uma noite de trabalho ela volta, por volta das 3h57 para seu quarto, um cômodo apertado nos fundos de um açougue do qual divide o único banheiro, localizado entre o quarto e o estabelecimento. Não muito frequente se dedica a limpeza do lugar para que as moscas não tomem conta por completo do ambiente de filme de terror que é como pode ser classificado o singelo toilet de 2m por 2m. Digo de filme de terror, porque as paredes ficam sujas de sangue a cada vez que os açougueiros passam por lá e digo toilet, porque é como Mirna gosta que o banheiro seja chamado, ela acha mais chique, por isso que providenciou uma placa com motivos desses de banheiro que a gente encontra em posto de estrada. - "Tô í lét", acho chique! Pronunciou feliz quando acabou por fim de pregar na porta aquelas letras cravadas num pedaço de madeira.
3h59, ao passar pelo banheiro se lembrou de como pregou aquela placa e se sentiu rica, afinal os programas tinham rendido mais que duas tapiocas e um suco de cajú que era o seu desejo do dia seguinte na feira livre do bairro. 4h mijou e percebeu que sim, já era hora de limpar o banheiro de novo. Deu boa noite às moscas e saiu desviando delas como quem abre uma cortina. Pensou:
- Amanhã vou comer duas tapiocas e tomar suco de cajú na feira aqui do bairro, pastel engorda.
Dormiu, com um semblante simples, singelo, cansado talvez, sem banho, de maquiagem e salto alto, melada e na companhia de uma mosca que ficou grudada no seu rímel.
10h, seis horas dormidas já estavam suficientemente boas para ela.
- Bom dia luz do sol! Assim ela acordou arrancando o cílio postiço e se dando conta que a mosca estava ali, amedrontada, jurando estar grudada numa teia de aranha.
- Não, não, não bonitinha, que medo bobo. Eu lá tenho cara de aranha?  
A mosca sorriu e respirou aliviada, abrindo um voo redentor após ter sido retirada da armadilha. Não durou muito este momento e até poderíamos pensar num close da mosca com um fundo de música bem inspirador aos sentidos libertários, mas não, a pobre mosca bateu com a cara na veneziana que estava fechada e caiu zonza e morta, estava fraca já, mosca não é uma coisa que vive muito.
10h30 de roupa mais dia, de sapato mais senhora e de maquiagem borrada, porque leite de colônia daquele frasco verde, não retira tudo mesmo, ela saiu. Ela saiu sem banho, mas eu apoio, não dava mesmo pra tomar banho antes de limpar aquele lugar.
10h32, Bom dia! Bom dia! Primeiro aos açougueiros que adoravam vê-la passar, para verem seus peitos, sua pouca bunda e darem risinhos pro Waltão, um gordo forte, tipo urso e de voz grossa, ah e de bigode também, que às vezes currava Mirna num encontro furtivo para usar o banheiro.
Bom Dia! Bom Dia! 10h35, muito bom dia ao casal de namorados sentado na praça, uma cena romântica como ela deveras gostava. Bom D..., engasgou um bom dia as 10h37 para a cigana que falara que ela ia morrer de doença, passou reto. Pensou:
- Não sou obrigada! Eu hein! Bom Dia! Oi seu Breno, tô boa sim e o senhor? Ah então tá bom. Manda um beijo pra sua filha.
A filha do seu Breno era uma sapatão que tinha um buteco, mas que fechou porque não ia muito bem.
10h42 e a feira livre é realmente um lugar pra se ver, ouvir, comer e sentir de tudo. Um espaço democrático, livre como o próprio nome já diz. Muitos aos berros em seus anúncios de melhores ofertas, muitas velhas simpáticas sempre e muitas velhas ranzinzas também. Mirna ali era praticamente uma celebridade, ainda mais depois daquela novela que o ator gritava o nome da personagem bem forte MIRRRRRRRRNNAAA. Era assim que muitas vezes os feirantes a chamavam, ela amava isso.
10h48, Axé baiana! Como tá nossa terra? Me vê duas tapiocas e um suco de cajú. - Não disfarçou o brilho nos olhos e segurou a boca com o punho fechado, numa emoção tão grande que a fez abusar:
- Bote mais baiana! - Se referindo ao leite condensado da tapioca doce, ela queria mais. Comeu, deleitou-se, nada como um pequeno prazer para se sentir grande e assim com as moedas restantes comprou banana, e pediu pro Zé da laranja pendurar a meia dúzia que ela levou.
11h11, fez um pedido. Pediu à São Cosme e Damião, seus santos da infância na Bahia, bons lucros na próxima noite e prometeu ir ao terreiro levar muitos doces na festa do Bigi.
11h13, Bom dia ao chofer de madame, bom dia à madame que virou a cara, bom dia ao policial e... O ENCANTO. Ele estava montado num cavalo marrom de pelos cintilantes, de crina longa e rabo escovado. Mirna percorreu os corpos do belo polícia, do belo cavalo, da bela miragem, ou visão. Do antigo fetiche de ser desejada por um polícia de quem apanha frequentemente, Mirna não reconhece, mas isso deve ser trauma da infância. 11h15, estática. 11h16, o cavalo relincha e ela ri. 11h16, ainda, o polícia pergunta a Mirna se ela quer dar uma voltinha e ri sarcástico, desce do cavalo, amarra-o e se dirige ao outro lado da calçada. A rua movimenta-se. Mirna está estática, alguma coisa aconteceu ali dentro, quem sabe alguns questionamentos, as promessas a São Cosme e Damião, a madame esnobe e o pequeno prazer de comer duas tapiocas e tomar um suco de cajú. Nesse momento a mistura de tudo a faz pensar e o pensamento lhe traz uma angústia, notem, ela ainda nem viu que a mosca é morta em sua janela, mas o cavalo , ali em frente lhe permite explorar o que não é próprio do seu mundo, então às 11h18 ela dá bom dia ao cavalo:
- Bom dia cavalo!
Num ato rápido, histórico, surtado, Mirna monta no cavalo e emite um imenso e forte grito:
- EEEiiiiiaaaaaaaa!! Ri de mim agora!
O cavalo dispara, o policial grita do outro lado da calçada, o trânsito o impede de passar, o cavalo veloz, segue como se Mirna fosse sua dona. Ela altiva e radiante, em pose de amazona:
- Bom Dia! Bom Dia! Bom Dia!
Bom dia até ouvir a buzina de um caminhão. Isso foi às 11h19m40s. 

Se eu pudesse perguntaria ainda se teria sido um bom dia ou se era melhor esperar mais meia hora.



quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Sou seu quando a tarde cai

Ah
Os fins de tarde
Quando o dia já se mostrou
Quando já sei o que estou sentindo
Quando as horas passam
E o pensamento volta
E se volta
Ao som do que mais me lembra você
E é assim que percorro o tempo
Pensando em não pensar
E abrir espaço pro que é bom
Vou deixar de lado isso tudo
Porque são coisas que não sei explicar
E ao leitor, perdão
I'm yours
E não é assim que se vai embora
Enfim
É fim

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Um frasco de inveja e raiva

A inveja é a vontade
De ter o que não é seu
O ciúme é o medo
De tomarem o que é meu
          (Vanessa da Mata)

Eu invejo os livres
Os loucos
Os desapaixonados
Eu invejo os invejosos
Os inescrupulosos
Eu invejo a água porque é líquida
Invejo o egoísmo
E o vizinho quando o ouço amar

Não me interrompa agora
Eu não sei dizer porque,
Mas se me parar assim
Vou só incorrer no erro
De viver invejando isso

Estava escuro e a grama sob meus pés descalços estava molhada do sereno. Caminhei em linha reta e naquele momento eu sentia que caminhava sem rumo. Caminhei sem rumo por uma linha reta, por uma estrada, ninguém aparecia. Não me importei, eu apenas continuei. Olhei pra trás e ainda podia ver o pisca alerta do meu carro, caminhei mais, caminhei até abandonar aquelas luzes e fiquei apenas comigo. Ninguém passou, ninguém passou, ninguém.

Se me apazigua o coração falar,
Porque me escondo tanto
Em minha voz?
É certo que gosto de música
É certo que gosto de Sísifo
Ou me sinto um pouco assim
Quando perco um pedaço de esperança

A raiva passa
A inveja também

Fica eu




de nascer

quem quiser  quem for ver vai dizer que o tempo passou voando não vai mentir vai sentir um vento na cara, natureza talvez sorrir parece que ...