Na TV, UFC
Na internet, BBB
Quem calcula o IDH,
De quem tem HIV?
Saca o FGTS
Saca a cartela de AAS
Ta lotada a UBS
E a UPA?
Vixe! Esquece...
Mas, se de pressão morrer
O IML é logo ali
Pra esquerda FBI
Pra direita FMI
Como rege a CLT
Cê tem PIS pra receber
E se o DIU não funcionar?
Pede logo o DNA
UPP para saltar
BCG para marcar
Um DOPS, ops, DROPS pra engolir
AC/DC pra dividir
REM para dormir
MEC oferta a educação
Diz que não sei os USA
Que não é de flor esse IP
Que eu dei CTRL+C , CTRL+V
Que eu passei tudo pro HD
E por fim, fiz um DDD
PQ VC TB, assim como eu,
Quer entender.
"A mão direita tem uma roseira
Que dá flor na primavera,
Entrai na roda, ó linda roseira!
Abraçai a mais faceira,
A mais faceira eu não abraço,
Abraço a boa companheira"
(Cancioneiro popular)
sábado, 23 de maio de 2015
terça-feira, 12 de maio de 2015
Em branco
Sentiu frio, a boca pastosa,
cuidou de se agasalhar com a manta de microfibra que tinha ganhado uns dias
antes. Ouviu um burburinho vindo da rua, um caminhão a buzinar, uma velha
gritando, refletiu sobre como e o porquê elas gritam, sem conclusões. A única
conclusão, a qual ele não queria chegar naquela quarta-feira de folga era a de
que com aquele friozinho não sairia da cama por nada.
Levantou como quem perde a hora. Pensou
ele que teria algum sucesso se talvez fizesse como todos os dias em que seu hábito
de levantar por obrigação o catapultava da cama. Mas não, a ignição daquele
lançamento da cama para o mundo era de fato o toque estridente daquele
despertador que comprou de um chinês que vendia artigos na rua e que, por sinal,
teve seus produtos apreendidos pelo “rapa” segundos depois da compra.
Sem alegria aparente, sem café
posto na mesa, sem Qualy pra passar
no pão entre sorrisos familiares compartilhados, sem suco de laranja fresco e
geladinho, pressentiu que não podia lutar contra aquele sono acumulado. Quis
pensar no almoço, lembrou-se do único Miojo
no armário. Quis ligar pra Silvia, mas ela agora estava namorando aquele
professor de educação física que tinha um corpo tão perfeito, uma alimentação
tão balanceada, uma vida regrada de exercícios físicos, que era uma humilhação
ter que conhecê-lo pessoalmente.
Silvia, uma antiga ex-namorada,
hoje amiga e confidente, o tinha como um irmão, o irmão que ela não teve,
falava sempre que contava com ele pro que der e vier. É claro que ele nutria,
no fundo, algo por ela, mas os anos fizeram aquilo se transformar na amizade
perfeita entre homem e mulher que Silvia jurava manter com ele. Ao contrário do
que ela imaginava, ele odiava saber que o professor de educação física era foda
na cama e que o pau dele era grande e grosso. “Por que ela insiste em tocar
nesse assunto?” Se perguntava sempre que desligava o telefone já com as orelhas
quentes das horas e horas em que ela fazia uso dos seus bônus de Tim pra Tim
ligando pra ele. “É de graça, vamos falar!” Ela comemorava, enquanto ele
amaldiçoava a empresa de telefonia móvel.
A essa altura ele já havia se
embrulhado na manta novamente e parecia ter se acostumado com o grito da velha
que agora se fazia audível: “Vou te matar picado Antero!” “Que diabos esse Antero
fez pra ela estar esbravejando assim?” Imaginava já achando graça e até com
curiosidade de ir espiar a cena na janela. Mas sair debaixo daquela manta
quentinha? Não mesmo. Pensou nos motivos que eventualmente o fariam sair da
cama: morte em família; dor de barriga; incêndio. Eram motivos remotos. Ou nem
tanto, afinal a tia Creontina, aliás, tia-avó, a última e mais velha das irmãs
de sua avó, estava morre-não-morre no hospital havia alguns dias. "Seria muito
desumano não estar se importando tanto com isso?" Sentiu certo desconforto por
conta desse pensamento, que o fez revirar-se na cama. Nunca se esqueceu do tapa
que ela deu na mão dele porque ele tocou na roseira dela. É bem verdade que ele
já tinha arrancado uma ou duas rosas, uma ou duas vezes, mas criança tem dessas
travessuras. Não fosse ele ter aberto o berreiro quando espetou o dedo num
espinho da roseira, a tia Creontina nunca teria desfeito o enigma do
desaparecimento das rosas da roseira do jardim do alpendre. Somem Safira! A avó
dele chamava-se assim, que nem pedra preciosa. Somem, menina! Ninguém até então
desconfiava dele, criança tranquila sempre está acima de qualquer suspeita.
Sempre se utilizou dessa boa fama para sair ileso de qualquer presepada que
aprontava. Quando menino tentava entender, porque tem rosa que é rosa, rosa que é vermelha e rosa que é branca. A rosa que é branca, ficou em branco por falta de tinta ou de memória. Pensamento de criança é tão legal. Estava quase cochilando entre uma lembrança de infância e outra,
quando o telefone tocou.
- Morreu filho!
- Quem mãe?
- Sua tia Creontina, a última. Agora não sobrou mais
ninguém.
- Que pena mãe.
- Você vem?
Tossiu compulsivo, estava tentando achar uma
desculpa.
- Tô com uma tosse mãe!
- Era sua tia, filho.
- Putz! Bem no dia da minha folga? Era só tia-avó
mãe.
- Irmã da minha mãe. Tive lá segunda e ela estava tão
bonitinha. Toma um Melagrião e vem.
“Decerto vai plantar uma roseira no céu agora”.
Pensou alto após desligar o telefone. Ele tinha esses rompantes de sinceridade,
quando não desligava fazendo micagem ou imitando a pessoa do outro lado da
linha, ele disparava um pequeno xingamento. A chefe era vaca, a mãe chata, a
secretária do dentista que ligava cobrando a raspagem que ele ainda não tinha
pago, gorda.
Enfim, levantou-se. Um trauma. Diante
daquela vida medíocre, o sono era um prazer absoluto. Dormir: a mais
democrática das fugas. Recriminou-se ao pensar que Creontina é que estava com
sorte, poderia dormir pra sempre agora. Pegou pesado, balançou a cabeça pra
espantar o pensamento. Foi o que de fato o fez levantar.
Levantou, mijou, tomou danone fake de saquinho, cujo rótulo
vinha escrito: bebida láctea, Vita-lacte,
agite antes de beber. Da cozinha retornou ao banheiro, abriu o chuveiro, pensou
em bater uma, mas e a crise hídrica? Indagou-se. Desistiu da bronha, se
ensaboou, lavou a cabeça com aquele Niely
Gold fedido que não acabava nunca. Se enxugou, escovou os dentes, se vestiu
em frente ao espelho de corpo que fica dentro da porta do guarda-roupa. Pensou
que não estava tão ruim assim. Apenas alguns exercícios e... voillà! Não ficaria pra trás do bombado
da Silvia. Ilusão, claro. Nunca tinha parado pra pensar nas centenas de ilusões
que vinha colecionando nos últimos tempos. Um dia ter um corpo, um dia ter um
carro melhor, um dia ganhar mais, um dia morar melhor, comer chocolate só mais
hoje, dormir só mais cinco minutos, um dia ser saudável, ser disposto, ser o
que quiser, concluir o curso de direito, ter o direito de se iludir.
Chamou o elevador. Desceu até a
garagem. Abriu o portão. Deu oi pro seu Dimas. Seguiu completamente convicto de
estar vivendo de ilusão. Iludido. Culpou o capitalismo. Pensou em fazer
terapia. Culpou o socialismo, porque não deu certo. Culpou seu avô, que perdeu
tudo que a família tinha no jogo, hoje ele poderia ser um empresário de
sucesso, administrador dos negócios da família. Teria orgulho, falaria de boca
cheia: Negócios da família. Não se sabia mais. Era mais uma ilusão pensar que
pudesse ser assim. Acelerou. Viu dona Safira, a avó, dar de ombros para um
padeiro, se viu comendo a Silvia na esquina na frente do bombado, bateu o carro
num emaranhado de ramos cheios de espinhos, esfregou os olhos e viu que eram grandes
roseiras crescendo sem parar, desceu, bateu a porta, gritou de pânico, chorou
uma pétala, na sua frente sua mãe, que levantou seu rosto pelo queixo, comeu a
pétala chorada e então, riu desesperada. Ele correu, perdeu a direção, queria
voltar pra casa, mas não tinha direito, não sabia o porquê, rezou, mas não teve
resposta, não sentiu no coração, não sentiu que ele era ele, não tinha mais
nome. Vou te matar picado Antero! Vou te matar picado Antero! Vou te matar
picado...
- João! Gritou seu próprio nome embrulhado na manta,
ainda na cama.
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